sábado, 4 de outubro de 2014

Operação «Colete de forças»



Objectivo:Conseguir manter os 2/3 do número de deputados (153) por forma a poder alterar a Constituição, para impedir o Tribunal Constitucional de intervir em defesa da redução da despesa por via da redução de salários e reformas, e possibilitar a manutenção da despesa por via de;



1 - Parcerias Publico Privadas, rodoviárias, ferroviárias, educação, saúde & águas e respectivos ganhos daí decorrentes para os políticos envolvidos nestas decisões.


2 - Privatizações a grupos estrangeiros com acordos de rendimento garantido por décadas (Rendas da energia), com as respectivas contrapartidas em tachos e bonificações de todo o tipo.


3 - Ajustes directos, Governos Regionais, Câmaras e Estado Central, que mantêm os lucros de empresas semi-privadas, ao dispor dos sócios amigos e/ou familiares dos responsáveis políticos, autarcas, etc...


4 - Concessões e sub-concessões de exploração de portos, aeroportos e outras estruturas públicas, com o pagamento das respectivas comissões depositadas directamente em off-shores


5 - Contratos de exploração com prazos de 50 anos (!!??), para permitir benefícios a longo prazo a todo o sistema politico governante.


6 - Mais valias na venda de gás natural não partilhadas com os consumidores, que inflacionam as respectivas contas do gás todos os anos muito acima da inflação oficial.


7 - Aumentos nas taxas dos aeroportos, que encarecem os preços das viagens.


8 - Direitos adquiridos de construção sobre pontes & aeroportos que hipotecam os direitos de concessão do estado para as gerações futuras e tornam o estado refém de interesses privados que por sua vez estão eles próprios reféns do sistema politico via promiscuidade entre cargos empresariais e políticos


9 - Indemnizações devidas por projectos adiados, como foi o caso do TGV e de alguns PPPs rodoviárias cujas obras foram suspensas e ficaram a meio

Em suma, continuidade da «Doutrina Pina Moura», em toda a sua pujança, é o que se pretende com esta operação, combinada entre as cúpulas dos dois principais partidos.


Forças Politicas envolvidas: PS + PSD + CDS




sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A estratégia inexistente

Qualquer primeiro ministro que venha a ser eleito, será sempre um refém dos grupos de interesse instalados nos aparelhos dos dois grande partidos.
Votar PS ou PSD nas próximas eleições legislativas é perpetuar o sistema bloqueado à participação cidadã, que nos conduziu até aqui.
É indiferente se é eleito António Costa, Passos Coelho ou Rui Rio, pois há muito qualquer um deles serve e é refém desses aparelhos.

Por outro lado, a situação financeira do país, não melhorou, pois continuamos a endividarmo-nos.
Admito que foram dados passos positivos quer pelo anterior governo de José Sócrates, quer pelo actual, mas em termos de resultados, tudo o que foi feito limitou-se a um «arranhar na pedra».
Para que possamos atingir a prazo o necessário equilíbrio das contas públicas, bloqueada a hipótese de uma renegociação por perdão parcial, os futuros governantes terão de proceder a cortes na despesa pública de 4 a 6 mil milhões de euros, admitindo como hipótese que o PIB estabiliza ou cresce.
Esta é uma verdade inconveniente que quer o actual governo quer os proto candidatos a primeiro ministro escondem, mas que não está nas mãos deles, definir.
António Costa fala-nos numa estratégia para o país, sem se comprometer com um único caminho, um desígnio ou propósito.
Em toda a nossa história contam-se pelos dedos de uma só mão os governantes que tiveram uma; Dom Afonso Henriques, Dom João II, Marquês de Pombal, Dom Pedro IV & Salazar.
Em Democracia, para alem de criarmos um Estado Social Europeu, que estratégia criámos para o sustentar ? Nenhuma.
É aqui que estamos. O mesmo sistema que foi incapaz de criar uma só estratégia de médio longo prazo para o país; O mesmo sistema que não fez outra coisa nos últimos anos que foi desfazer o que o anterior governo tinha feito; O mesmo sistema que se devora facinoramente investigando as vidas privadas e pessoais dos seus lideres enquanto despreza o respeito e o rigor no controlo da coisa pública, nunca investigando todos os roubos e abusos cometidos sobre este; O mesmo sistema que distribui favores e comendas pela família e pelos amigos, quer agora convencer-nos que tem uma estratégia.
Pois eu digo-vos caros amigos que a única estratégia que este monstro bi-cefalo tem é a de garantir 2/3 dos deputados nas próximas eleições legislativas em 2015, para assim conseguir alterar a constituição e arrumar de vez com o único empecilho que tem encontrado pelo meio e que os tem impedido de continuar a roubar aos pobres para dar aos ricos, sejam eles grandes empresas, políticos/empresários nas órbitas partidárias, reformados preveligiados com reformas absurdas e sem carreiras contributivas, fundações observatórios, e privatizações entregues aos amigos.
Mas se «eles» nas próximas eleições obtiverem os 2/3 do número de deputados não se esqueçam que a culpa, nunca foi só deles, também foi, é e será sempre nossa.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Reinado de Nicolau I, da Rússia ( 1825 a 1855)

O filósofo Peter Kropotkine, um dos teóricos do anarquismo, deixou uma descrição vívida da maneira como a servidão funcionava durante o reinado do czar Nicolau I, que governou a Rússia de 1825 a 1855.

Lembrava-se de ouvir, na sua infância histórias de homens e mulheres que eram separados à força das suas famílias, levados das suas aldeias e vendidos, perdido ao jogo ou trocados por cães de caça e transportados para algum lugar remoto da Rússia (...)

de crianças que eram arrancadas aos pais e vendidas a amos cruéis ou dissolutos;

de serem chicoteados nos estábulos, um acontecimento quase diário e que se caracterizava por uma crueldade inaudita;

de uma rapariga que achou que a sua única salvação era afogar-se;

de um homem cujos cabelos tinham embranquecido ao serviço do seu senhor e que, por fim, se enforcou debaixo da janela deste;

e de revoltas de servos que foram reprimidas pelos generais de Nicolau I, chicoteando até à morte um de cada dez ou de cada cinco homens escolhidos ao acaso e destruindo a aldeia (...)

Quanto à pobreza que vi, durante as nossas viagens, em certas aldeias, especialmente naquelas que pertenciam à família imperial, não há palavras que possam descrever aos leitores a miséria que não tenham visto.

in «Porque Falham as Nações - Capitulo 8 - No nosso quintal, não: Barreiras ao desenvolvimento», Temas & Debates, Circulo de Leitores 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Plano Cautelar, Tribunal Constitucional Alemão & o nosso futuro a curto prazo.

Em Julho de 2012, Mário Draghi, declarou que o banco iria fazer o «que fosse necessário» para salvar o EURO.

Implícito nas palavras do Presidente do BCE, estava o Lançamento dos OMTs ( Outright Monetary Transactions ) em português TMAs (Transacções Monetárias Absolutas), que na prática significam, emitir moeda para comprar divida soberana dos estados que integram a União Monetária.

Esta decisão, foi a primeira, não unânime tomada pelo BCE,  o Governador do Banco Central Alemão (Bundesbank-BUBA),  Jens Weidmann, que votou contra, por entender que o BCE está a ir alem das suas atribuições e competências no âmbito dos acordos existentes que suportam a  União Monetária Europeia, e na sua qualidade de representante do maior accionista do BCE a Alemanha,  entendeu em conjunto com o ministro das finanças  do governo de Angela Merkel, o septuagenário Wolfgang  Schauble, interpor uma acção no Tribunal Constitucional Alemão (TCA), contra esta medida do BCE que consideram avulsa & extemporânea e que segundo eles pode colocar em causa a estabilidade e o valor da moeda única europeia.

Na sequência o TCA, recentemente entendeu remeter para o Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) para que este emita a decisão final sobre se à luz dos tratados assinados e assumidos pelas 18 nações que compõem actualmente o EURO, a decisão de Draghi tem enquadramento legal(?).

 Dificilmente o TEJ decidirá contra o BCE, até porque quer o poder politico quer o poder económico europeu, assentam hoje quase exclusivamente na estabilidade da moeda única e na capacidade que esta tem vindo a demonstrar de funcionar cada vez mais como moeda de reserva de valor mundial, tornando os investimentos na Europa um valor seguro para os investidores mundiais.

No entanto a existência de um plano cautelar para apoiar Portugal após dia 17 de Maio, depende quase exclusivamente desta decisão, uma vez que se a mesma não for favorável ao BCE, este não poderá sequer criar um plano cautelar de apoio, pois não poderá contar com único instrumento atualmente ao seu dispor para o efeito, os OMT/TMA.

Portugal não está em condições de poder prescindir deste Back-up, pois não conseguimos nos últimos 3 anos atingir sequer um saldo primário positivo, sinal mínimo necessário para os mercados considerarem que os nossos governos têm um efetivo controlo sobre as nossas contas públicas.

De facto os nossos governos não têm o necessário controlo sobre as nossas contas públicas, quem detém esse poder é o Tribunal Constitucional, que não é um órgão eleito, nem executivo. Enquanto assim for os graves problemas das nossas contas públicas irão perdurar, o IRS não irá baixar e a carga fiscal irá continuar a canibalizar a economia, num processo de gradual destruição e decadência autofágica nacional.

Infelizmente para todos nós, a mudança de governo não alterará nada do actual panorama, o próximo governo eleito, será confrontado com a mesma situação que o actual e se os dois partidos mais votados não conseguirem chegar a um acordo constituindo um governo de salvação nacional, no sentido de limitar os estragos causados pelo TC nas contas públicas pós 2015, que DEUS tenha piedade de nós. Aos não crentes, resta-nos emigrar.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Democracia Participativa - Os Equívocos de liderança.

Sabendo que a esperança média de vida de um cidadão português ronda os 78 anos de idade, e que as nossa pirâmide etária concentra mais população acima dos 30 anos de idade do que abaixo dada a quebra continua da taxa de natalidade, não compensada pela imigração;

Considerando que todo os que viveram até os 10 anos durante o Estado Novo não tinham grande consciência da época em que viviam, teremos que todas as pessoas com menos de 50 anos, não viveram ou não foram decisivamente influenciadas pelos valores da época.

Assumindo estas duas condições simplistas podemos concluir com algum grau de razoabilidade que atualmente +2/3 da população viva, já não viveu ou não sofreu grande influencia dos valores do anterior regime.

Em 1974, cerca de 3/4 das pessoas não eram nascidas ou não tinham sido influenciadas de forma significativa pela situação vivida durante a primeira republica. Nesse tempo a nossa pirâmide etária era bem mais larga junto à base, do que é hoje, apesar da emigração dos anos 60.

É portanto provável/admissível que daqui a 10 anos, a parte da população que já não viveu sob a égide do Estado Novo se assemelhe muito a esses 3/4 de há quarenta anos.

Se pensarmos em termos de Democracia Representativa vs Democracia Participativa, facilmente perceberemos que atualmente entre 1/3 e metade da população ainda não está preparada para aceitar novas formas de Democracia, porque a única que conhecem é a que sempre tivemos.

Pensar que se pode constituir um Partido com um diferente grau de abertura à participação, integrando nomeadamente novas plataformas informáticas que o permitem, sem ter em consideração os aspetos demográficos acima descritos, entre outros, como a cultura democrática ou num nível mais pragmático as recentemente adquiridas e ainda frágeis competências ao nível informático, é esquecer que nem todos estarão preparados para o integrar, por conseguinte, há que aceitar que como em todas as mudanças haverão sempre os que terão de ir à frente.

Porem liderar, já não é comandar ou impor regras, liderar é ir olhando para trás alumiando o caminho de quem vem atrás, evitando que uns se percam e outros se afastem, ajudando outros a perceber onde nos leva o caminho. Sem esse cuidado constante, sem essa diligência inata, qualquer iniciativa neste âmbito acabará por soçobrar às ambições pessoais dos que o pensam liderar.

Promover participação é muito mais do estar disponível para ela, é estar disponível para os outros.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Um dos lugares comuns na nossa sociedade é usarem-se os comportamento e/ou as situações excepcionais somo se fossem estas a regra e a partir daí, discorrer teorias e explicações porque tudo está mal e nada funciona.

Questionadas as pessoas que o fazem por hábito e de forma sistemática, rapidamente são confrontadas com o tamanho do seu equivoco, caindo pela base todas as ideias que construíram sobre ele.

A primeira reacção é a de quem ficou sem rede, e agora se vê confrontado/a com a necessidade de «pensar tudo de novo».

Uma outra reacção menos comum e inteligente é persistir no erro defendendo com unhas e dentes o que não é defensável pela lógica seja ela qual for.

Enganados podemos sempre estar todos em qualquer momento, a diferença entre nós, está na forma como reagimos quando nos demonstram de forma inequívoca o nosso erro.

Obviamente aqueles que «pensam pela sua própria cabeça» e aplicam o método cientifico, colocando constantemente em causa as suas próprias convicções, são os que mais facilmente aceitam reconhecer que poderiam não estar correctos mas são também sempre os mais difíceis de convencer, porque quando outrem põe em causa as suas ideias rapidamente descobre que eles também já o fizeram.

Por favor, pense pela sua cabeça e rejeite IDEIAS FEITAS mesmo as que lhe pareçam mais LÓGICAS & ou EVIDENTES.

Pergunte, pergunte sempre, não tenha medo de passar por ignorante, porque ignorantes somos todos, burros são só os que têm medo de passar por ignorantes e por isso não perguntam.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Velho Umbunzeiro e os seus novos rebentos, uma história de pessoas

"Era uma aldeia muito pequena.
Tão pequena que não figurava nos grandes mapas nacionais.
Tão pequena que tinha apenas uma praça diminuta e, na sua única praça, uma única árvore.
Mas as pessoas adoravam a sua aldeia, amavam a sua praça e a sua árvore: um enorme umbunzeiro que se encontrava precisamente no centro da praça. E também no centro da vida quotidiana dos habitantes da aldeia: todas as tardes por volta das sete, depois do trabalho, os homens e as mulheres da aldeia encontravam-se na praça, recém-lavados, penteados e vestidos, para dar duas voltinhas ao umbuzeiro.

Durante anos, os jovens, os pais dos jovens e os pais dos pais dos jovens cruzavam-se diariamente à sombra do umbunzeiro.
Ali se haviam fechado negócios importantes, se haviam tomado decisões relativas ao município, celebrado casamentos e recordado os mortos durante anos e anos.
Um dia, começou a acontecer uma coisa diferente e maravilhosa: numa raiz lateral, saído do nada, brotou um raminho verde com duas únicas folhas viradas para o sol.
Era um rebento. O primeiro rebento que o umbunzeiro dera, desde sempre.
Depois da comoção, criou-se um comité para organizar uma festa em honra daquele acontecimento.
Para espanto dos organizadores, nem toda a gente da aldeia acorreu à celebração. Havia quem achasse que o rebento traria complicações.

A verdade é que, uns dias depois de ter aparecido o primeiro rebento, começou a brotar outro. E, no espaço de um mês, mais de uma vintena de raminhos verdes tinham assomado das velhas raízes do umbunzeiro.
A alegria de uns e a indiferença de outros iam durar pouco.
O alerta foi dado pelo guarda da praça. Algo se passava com o velho umbunzeiro. As suas folhas estavam mais amarelas do que nunca, estavam frágeis e caíam facilmente. A cortiça do tronco, que outrora era carnuda e macia, ficara ressequida e quebradiça. O guardião fez o seu diagnóstico.
- O umbunzeiro está doente.
E talvez morresse.

Nessa tarde, durante o passeio vespertino, estalou a discussão. Alguns começaram a dizer que a culpa era dos rebentos. Os seus argumentos eram concretos: tudo estava bem antes de eles aparecerem.
Os defensores dos rebentos diziam que uma coisa não tinha nada a ver com a outra e que os rebentos asseguravam o futuro, se acontecesse alguma coisa ao umbunzeiro.
Expostas as diferentes opiniões, formaram-se dois grupos claramente antagónicos. Um que defendia o velho umbunzeiro, outro que defendia os novos rebentos.
Sem saber como, a discussão tornou-se cada vez mais acalorada e os dois grupos distanciaram-se cada vez mais. Chegada a noite, decidiram tratar o assunto na reunião municipal do dia seguinte, para acalmar os ânimos.

Mas os ânimos não se acalmaram. No dia seguinte, os Defensores do Umbunzeiro, como começaram a apelidar-se, disseram que a solução do problema era voltar atrás. Os rebentos estavam a tirar as forças ao velho umbunzeiro e a actuar como parasitas da árvore. Tinham, portanto, de destruir os rebentos.

Os Defensores da Vida, como se havia baptizado o segundo grupo, escutaram alvoraçados, porque também eles se tinham reunido para encontrar uma solução. Tinham de arrancar o velho umbunzeiro, que na verdade já cumprira o seu ciclo. A única coisa que estava a fazer era tirar sol e água aos recém-nascidos. Além disso era inútil defender o umbunzeiro porque, de qualquer forma, a velha árvore já estava praticamente morta.
A discussão terminou em briga e a briga em escaramuça, onde não faltaram gritos, insultos e pontapés. A polícia pôs fim à contenda, mandando toda a gente para casa.

Os Defensores do Umbunzeiro reuniram-se nessa noite e decidiram que a situação era desesperada, já que os seus estúpidos adversários não iam ouvir os seus argumentos e, como tal, decidiram agir. Armados com tesouras de podar, paus e picaretas, decidiram atacar: destruídos os rebentos, a situação a negociar seria diferente.
Chegaram à praça todos contentes.

Ao aproximarem-se da árvore, viram que um grupo de pessoas estava a empilhar toros à volta do umbunzeiro. Eram os Defensores da Vida, que planeavam lançar-lhe fogo.
Ambos os grupos de defensores embrenharam-se noutra discussão, mas desta vez as suas mãos estavam armadas de ódio, rancor, vontade de destruir.
Vários rebentos foram pisados e danificados durante a escaramuça.
O velho umbunzeiro também sofreu danos graves no tronco e nos ramos. Mais de vinte defensores de ambos os lados acabaram a noite internados no hospital, com feridas de maior ou menos gravidade.
Na manhã seguinte, a praça tinha um aspecto completamente diferente. Os Defensores do Umbunzeiro tinham levantado uma cerca à volta da árvore e guardavam-na permanentemente com quatro pessoas armadas.

Os Defensores da Vida, por seu lado, tinham cavado um fosso e instalado uma vedação de arame farpado à volta dos rebentos que restavam, a fim de repelir qualquer ataque. (...)
A gritaria era terrível e ninguém se conseguia fazer ouvir.
De repente, abriu-se a porta e, pelo corredor, seguido pelo olhar de ambas as partes, avançou o velho, apoiado na sua bengala.

O Velho devia ter mais de cem anos, fundara aquela aldeia na sua juventude, planificara as suas ruas, sorteara os lotes de terreno e, claro está, plantara a árvore.
O Velho era respeitado por todos e a sua palavra conservava a lucidez que o acompanhara durante toda a sua vida.

O ancião afastou os braços que se ofereciam para o ajudar e, com dificuldade, subiu ao palco e falou.
-Seus imbecis! - disse. . Autoproclamam-se Defensores do Umbunzeiro, Defensores da Vida... Defensores? Vocês são incapazes de defender seja o que for, porque a vossa única intenção é prejudicar todos aqueles que pensaram de maneira diferente da vossa.
Não se apercebem do vosso erro e tanto uns como os outros estão equivocados.
O umbunzeiro não é uma pedra. É um ser vivo e, como tal, tem um ciclo de vida. Este ciclo inclui dar vida aos que continuarão a sua missão. Isto é: inclui preparar os rebentos para fazer deles novos umbunzeiros.

Mas os rebentos, seus estúpidos, ainda mal são umbunzeiros. Por isso, não poderiam viver se o umbunzeiro morresse e a vida do umbunzeiro não teria sentido se não fosse capaz  de transformar-se numa vida nova.
Preparem-se, Defensores da Vida. Treinem e armem-se. Em breve chegará a hora de deitar fogo à casa dos vossos pais com eles lá dentro. Porque em breve envelhecerão e começarão a estorvar o vosso caminho.
Preparem-se, Defensores do Umbunzeiro. Pratiquem com os rebentos. Devem estar preparados para matar os vossos filhos quando eles quiserem substituir-vos ou superar-vos.
E autoproclamam-se vocês Defensores!  Vocês só querem é destruir.
E não se apercebem de que destruindo, destruirão também, inexoravelmente, tudo aquilo que pretendem defender.
Pensem!

Não vos resta muito tempo...

E dito isto, desceu lentamente do palco e caminhou para a porta, perante o silêncio de todos.
...E foi-se embora."

Bucay, Jorge; DEIXA-ME QUE TE CONTE,

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A linhagem Rosthschild

No início do século XIX, os herdeiros do dono de uma casa de câmbio em Frankfurt mostraram a um dos maiores génios militares da história que sem poderio financeiro não há artilharia suficiente para vencer guerras.
A melhor altura para comprar é quando há sangue nas ruas”. O autor da frase, Nathan Rothschild, devia saber do que falava, já que ajudou a construir um império financeiro alicerçado no sangue derramado na Europa pelas guerras napoleónicas do fi nal do século XVIII e início do século XIX. E ainda hoje a máxima do Barão de Rothschild é aplicada por alguns investidores para fazerem milhões.

No final do século XVIII, grande parte da Europa tremia ao ouvir este nome: Napoleão. A campanha conquistadora deste génio militar provocou o medo nos homens mais ricos da altura. Não só temiam ver as suas fortunas transformadas em despojos de guerra mas também, principalmente para aqueles que adoravam mais a vida que o dinheiro, o terror de serem esquartejados pelas baionetas dos soldados de Napoleão.

Um desses homens que queria preservar tanto a sua riqueza como a sua vida era Guilherme I, Eleitor de Hesse, que governava um território perto de Frankfurt e, dizia-se, era um dos aristocratas mais ricos da Europa. Numa primeira fase tentou ocultar os seus bens para que não acabassem nas mãos do Júlio César do século XVIII, contando com a astúcia e a perspicácia de Mayer Amschel Rothschild, que tentava transformar a casa de câmbio que herdara numa entidade fi nanceira poderosa. Mais tarde, Guilherme I exilou-se e deixou os seus bens nas mãos do fundador da poderosa dinastia Rothschild, que dura até aos dias de hoje e tem ramifi cações por todo o mundo, incluindo Portugal.

O xeque-mate a Napoleão


Napoleão até podia ser um dos maiores génios militares da História. Mas não há exército que resista ao poderio financeiro. E Mayer Rothschild revelou-se um estratega fi nanceiro capaz de causar estragos nas fi leiras de uma das maiores máquinas de guerra de sempre. Mas, mais importante ainda, conseguiu aumentar a fortuna à medida que o sangue tingia os campos de batalha pela Europa.

Mayer espalhou quatro dos cinco fi lhos pelos maiores centros fi nanceiros e de poder europeus (Londres, Nápoles, Paris, Frankfurt e Viena). E com a experiência adquirida em ocultar os bens de Guilherme I, criou uma rede logística no Velho Continente para que se conseguisse fazer circular bens pela Europa, como ouro e obras de arte, de maneira a que estes não fossem apanhados pelas tropas francesas. Mas a grande mais-valia deste entreposto logístico residia noutro factor, o poder da informação. Como dizia um dos aliados dos Rothschild, o Duque de Wellington, “tudo o que importa na guerra, aliás, tudo o que importa na vida, é esforçarmo-nos por descobrir o que não sabemos com aquilo que fazemos”. E aquilo que os Rothschild faziam permitiu-lhes saber o que outros não sabiam, dando-lhes enorme vantagem e reconhecimento nos mercados fi nanceiros.

Mas antes de se avançar com o golpe que permitiu colocar em prática a máxima de que é quando o sangue corre pelas ruas que os negócios se fazem, convém explicar porque se trouxe Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, para esta história. O militar inglês andou anos a brincar ao jogo do gato e do rato com Napoleão, que com as suas ambições imperialistas havia sido considerado um alvo a abater por essa Europa fora. Mas já desde os tempos remotos que se sabe que quando se quer fazer guerra há que ter dinheiro. E foram os Rothschild que fi nanciaram Inglaterra nas campanhas contra Bonaparte, nomeadamente na defesa de Portugal durantes as Invasões Napoleónicas. Além disso, utilizaram a sua rede logística para entregar fundos da Coroa Inglesa aos estados aliados na guerra contra o temível francês.

A estratégia de fi nanciamento para derrotar Bonaparte iniciara-se, segundo alguns historiadores, sob as ordens do tal Guilherme I que, preocupado com os seus bens, queria evitar que o francês reinasse sobre toda a Europa. O patriarca dos Rothschild deu seguimento a esta táctica, contando com o contributo decisivo do fi lho que destacara para Londres, Nathan Rothschild, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas.

Além do sangue nas ruas, o dinheiro faz-se com influência e informação
Sangue foi o que não faltou no Junho chuvoso de 1815. Na última tentativa de se reerguer da humilhação na Rússia e do exílio em Santa Helena, Napoleão jogou as cartas todas em Waterloo, perto de Bruxelas. Do lado oposto estavam os aliados ingleses e prussos liderados por Wellesley. O futuro do continente e da bolsa londrina jogava-se naquele embate em terreno encharcado, iniciado a 18 de Junho, um Domingo.

Entretanto, reza a lenda, nos dias seguintes à batalha, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas, começou a vender dívida inglesa. Com a ausência de notícias vindas do campo de batalha, o mercado interpretou a decisão de Nathan como se o Rothschild soubesse qual tinha sido o desfecho de Waterloo e começou também a desfazer- se dos títulos. Segundo alguns especialistas, Nathan soube com antecedência qual o resultado da batalha, graças à sua rede de agentes que palmilhava a Europa para entregar bens e reunir informações. Após a queda do mercado e já com os preços deprimidos, Nathan começou a comprar e, seis dias após a batalha de Waterloo, chegou a Londres o emissário do Duque de Wellington a dar a notícia de que o temível Napoleão havia sido derrotado.

O resultado da sangrenta batalha, que provocou 51 mil baixas (entre mortos, feridos e desaparecidos) no exército de Bonaparte e 24 mil nas fileiras dos aliados, deu um grande impulso ao mercado londrino. E poderá ter sido uma das maiores jogadas na História dos mercados fi nanceiros, aumentando exponencialmente a fortuna dos Rothschild. Apesar desta versão, há alguns investigadores a argumentar que Nathan não lucrou com Waterloo e que, na verdade, a sua fortuna correu riscos signifi cativos com a possibilidade de Inglaterra sair derrotada, já que era um dos maiores credores da Coroa e veria os seus investimentos perder valor com uma derrota do Duque de Wellington.

Com a fortuna e a infl uência a subirem em fl echa, os Rothschild montaram um dos primeiros bancos de investimento globais. Rapidamente se tornaram nos principais fi nanciadores dos Estados europeus, espalhando o seu negócio por todo o Velho Continente. Foi esta família de banqueiros que fi nanciou a Coroa Inglesa para a compra do estratégico Canal do Suez. Estiveram ainda na fundação de empresas como a De Beers, que ainda hoje detém o monopólio de diamantes, e da Rio Tinto, que continua actualmente a ser uma das gigantes do sector mineiro. Compraram minas na América, onde abriram sucursais, e na Península Ibérica. Foram uns dos maiores fi nanciadores do fôlego industrial de fi nal do século XIX e não deixaram escapar a oportunidade do ouro negro, ao investir nos campos petrolíferos russos.

Usaram o seu dinheiro para incentivar a construção de caminhos-de-ferro, do metro de Londres e de um túnel que ligasse França a Inglaterra. Toda esta infl uência levou mesmo os Rothschild a ter o poder de emitir moeda em Inglaterra e a serem a entidade responsável por fi xar o preço do ouro. E ao mesmo tempo que a sua infl uência fi nanceira junto de estados soberanos aumentava, os Rothschild lançavam também elementos da sua família na política inglesa e francesa. Todo este poder levou a que surgissem teorias sobre o papel dos Rothschild no controlo da economia mundial e da infl uência para coagir os estados a tomar posições benéfi - cas para os seus interesses, assim como de conseguirem promover a guerra e a paz.

Entretanto, dos negócios iniciados pelos fi lhos de Mayer Amschel Rothschild, a operação em Nápoles acabaria por encerrar. Também em Frankfurt a falta de herdeiros levaria ao fecho da casa que serviu para o império Rothschild como Roma para o Império Romano. O poder da família tinha como epicentro Londres e Paris.

O judaísmo, o desentendimento e a ligação a Portugal 
Apesar da riqueza existiam questões fracturantes entre a família Rothschild. Uma delas era se o clã devia ou não usar a fortuna para instituir a Terra Prometida da sua religião, o judaísmo. Um dos Rothschild mais empenhados nesta demanda foi Edmond James de Rothschild, fi lho do fundador do negócio da família em Paris. No século XIX fi nanciou os primeiros colonatos judeus na Palestina, lançando bases decisivas para a criação do que viria a ser o Estado de Israel. Os esforços de Edmond valeram-lhe mesmo o epíteto de Pai de Israel. O incentivo à criação de um Estado judaico na Palestina continuou a ser incentivado pelos descendentes de Edmond James. E um dos seus fi lhos, Maurice, protagonizou a querela com maiores consequências na história do clã no final da década de 30 do século XX. Discordando do rumo dos negócios da família, saiu do grupo Rothschild para se estabelecer por conta própria, mas não teve muito tempo para colocar as suas ideias em prática devido à ascensão de Hitler.

Mesmo tendo conseguido levar a melhor sobre Napoleão, os Rothschild não resistiram incólumes à cavalgada diabólica de Hitler pela Europa. O regime nazi confi scou os bens dos Rothschild na Áustria, levando ao encerramento da operação da família em Viena. E a associação de Maurice de Rothschild à estrela de David e à resistência francesa, levaram-no a recorrer ao cônsul português de Bordéus, Aristides Sousa Mendes, para conseguir um visto que o tirasse de terreno mortífero. Maurice era senador francês e foi um dos poucos a opor-se ao Regime de Vichy do general Petain, que fez a paz com Hitler, e congeminou a criação de um foco de resistência francês em Londres caso a Gália sucumbisse totalmente aos Panzers alemães.

Graças aos vistos concedidos por Aristides, Maurice e outros sete elementos da família Rothschild conseguiram fugir para Portugal e escapar às perseguições nazis. Após a II Guerra Mundial, o fi lho de Maurice, Edmond Jacques, aproveitou várias heranças para criar uma entidade fi nanceira na Suíça que ainda hoje é independente do Grupo Rothschild, o Edmond de Rothschild Group, que tem, desde 2000, escritórios em Portugal.

Além do escritório em Lisboa, as entidades ligadas aos Rothschild estiveram activas no processo de privatizações portuguesas nas décadas de 80 e 90 e continuam a ser assessores fi nanceiros em operações no mercado de capitais nacionais. A entrada em bolsa da REN, por exemplo, teve o grupo Rothschild como um dos bancos de investimento a montar a operação. E, mais recentemente, a entidade esteve presente na avaliação dos activos da Cimpor e no cálculo das necessidades de capital dos bancos portugueses. Outras das grandes áreas de actividade do clã são a arte e os vinhos. Os Rothschild já foram proprietários da Quinta do Carmo, de onde sai o vinho Bacalhoa, que foi comprada há poucos anos por Joe Berardo.

O grupo Rothschild, que vai na sétima geração de banqueiros, continua a manter a sua infl uência nos dias de hoje e ainda tenta recuperar de um dos maiores reveses que sofreu na sua história. Apesar de terem derrotado Napoleão e sobrevivido a Hitler, o negócio original do clã sofreu os maiores estragos em 1983, quando o Presidente francês, François Mitterrand, nacionalizou o Banco de Rothschild. Três anos depois, a família tentou reerguer-se das cinzas, fundando o Rothschild & Cie Banque, que deu origem ao grupo actual.

E apesar de actualmente não terem o poderio e o mediatismo de gigantes norte-americanos, como o Goldman Sachs e o JP Morgan, ainda são capazes de fazer jogadas de mestre nos mercados. Em 2008, ano em que a falência do Lehman Brothers colocou os maiores bancos de investimento do mundo a lutar pela sobrevivência, a empresa-mãe do grupo Rothschild, a Paris Orléans, conseguiu lucrar 76 milhões de euros, assentes na sua actividade na banca de investimento, gestão de activos e banca privada.
(artigo publicado na revista Fora de Série com a edição de 4 de Outubro do Diário Económico)